quarta-feira, 8 de abril de 2015

“Quanto devo cobrar pelos meus serviços de fotografia?”



Por estar de acordo com o colega Rui Santos Costa Photography aqui partilho o texto do mesmo.

Pois  todos que andamos no oficio, deveríamos ter o bom senso e praticar o preço justo.


ou “Quanto devo cobrar pelos meus serviços de fotografia?”

Longe de pretender ser um tutorial exaustivo de como e quanto cobrar pelos seus serviços de fotografia, este pequeno post pretende sobretudo apontar e quantificar cada uma das variáveis envolvidas no desenvolvimento de uma política de preços.
Agradeço toda e qualquer adição ou sugestão que queiram fazer ao texto.

O Preço e o Produto

Como base de tudo o que se segue devemos assumir que cada fotógrafo pode assumir um modelo de negócio personalizado, sem que exista uma fórmula de certeza que se possa aplicar a todos os fotógrafos e que contemple todo o cliente-alvo, todo o mercado, todas as condicionantes e toda a concorrência.
É contudo consensual que há elementos que são comuns a todos os fotógrafos profissionais e que devem ser considerados aquando da estruturação da sua política de preços e estruturação da oferta: os custos de produção, o custo da sua própria vida e qualquer outra despesa adicional que tenha de adicionar à sua operação. Trocado por miúdos, o fotógrafo – à semelhança de qualquer outro profissional – deve contabilizar todas as suas despesas e conseguir adicionalmente uma margem que lhe permita ter uma vida para lá da sua profissão. Como um canalizador, como um carpinteiro, como um médico, dono de restaurante, etc.
Para além disso, tem de decidir se pretende organizar um esquema de negócio de alto-volume e baixo-custo, um esquema de baixo-volume e alto-custo, ou qualquer coisa aí pelo meio.
Não se esqueça contudo (nem permita que os seus clientes o esqueçam) que, ser fotógrafo profissional, como em qualquer outro negócio, tem por base e objectivo, o lucro. O objectivo do lucro é no fundo o que distingue um passatempo de uma profissão (de forma tão redutora quanto possível).

Falando de números…

Porque é disso que se trata, certo?
É claro que não deve avançar sem definir o seu nicho e ter um bom conhecimento dos demográficos do seus clientes-alvo. O seu cliente vê anúncios no Facebook ou lê jornais? Prefere uma abordagem tradicional ou uma abordagem mais irreverente. Falamos de um cliente entre os 18 e os 25 ou de pessoas com mais de 40, com filhos, família, etc. Tudo, mas mesmo tudo o que puder saber é uma adição de valor ao desenvolvimento do seu plano de negócios e uma ferramenta absolutamente indispensável para o cálculo dos custos de operação, i.e., o cost of doing business.
Em que vai gastar o seu dinheiro? Em tanta coisa! Normalmente em mais coisas do que à partida possa pensar.
Apenas como exemplo:
  1. Renda (seja a do seu estúdio ou a do seu T3, que seria um T2 se não trabalhasse em casa);
  2. Electricidade (a EDP não perdoa), aquecimento, água, telefones e todas aquelas despesas que a maioria das pessoas se esquece de contabilizar;
  3.  Custos associados à sua própria formação. Seja uma publicação de referência, uma subscrição online, seminários e conferências, feiras, um workshop ou uma formação específica, não se esqueça, isto são despesas. Para um fotógrafo profissional são despesas recorrentes e muito consideráveis;
  4. Serviços contratados a terceiros. O seu advogado e o seu contabilista também comem!;
  5. Custos de manutenção do seu equipamento. Um strobe de estúdio tem um custo de compra e um custo de utilização. A sua câmara igualmente. Cada vez que dispara está a gastar desde uns meros décimos de cêntimo a uns euros, dependendo do equipamento usado;
  6. Custos do equipamento. Não o confunda com o ponto anterior. Calcule de antemão aquilo que pensa gastar, por exemplo, num período de 4 anos, divida o custo do equipamento pelos anos e chegará a um valor anual investido em equipamento. As lentes são das poucas coisas que escapam a este período médio de 3-5 anos, já tudo o resto (laptopsdesktops, corpos de câmara, etc.) dura quase sempre o mesmo;
  7. Estacionário, cartões de visita e tudo o resto que faz parte de qualquer negócio;
  8. Combustível ou outras despesas de deslocação (bilhetes de comboio, avião, etc.);
  9. Merchandising;
  10. Esforço de divulgação (marketing e promoção).

Seja bem pago pelo trabalho ou… trabalhe de graça!

Bem sei que parece um contra-senso muito grande mas as áreas cinzentas desta temática dos pagamento é que normalmente geram os problemas aos profissionais. Tenho como regra simples o seguinte: se alguém me contacta com a intenção de contratar um serviço e à posteriori se lembra de regatear ou pedir uma borla a minha resposta é, inevitavelmente, NÃO. Se alguém me contacta e logo à partida apresenta declaradamente a necessidade de me pedir que ofereça um determinado serviço (pro bono) a resposta é algumas vezes um imediato “SIM”, algumas um imediato “talvez” e, sem prejuízo da validade do pedido, às vezes “não”.
À conversa do “tenho um sobrinho que faz isso” a sua resposta deve ser sempre “ainda bem, assim pode então manter as coisas em família”.
Seja bem pago ou trabalhe de graça, nunca o meio-termo. Quer isto dizer, por outras palavras, “faça o que lhe garante sustento ou faça simplesmente o que lhe dá prazer”. Não há nada pior do que fazer algo que nos desagrada e ser, por cima disso, mal pago.

Resumindo…

Antes de vender uma sessão fotográfica ou uma cobertura de evento por uma sanduíche e meia pastilha elástica, lembre-se que cada vez que o fizer está a desrespeitar o seu trabalho, a desrespeitar o trabalho de outros fotógrafos e pior, está a passar uma ideia errada ao seu cliente.
Dizer ao seu cliente que 60 minutos de fotografia, 45 minutos de preparação do setup e testes, com 15 minutos de viagem para cada lado, combustível, 3-5 horas de edição e pós-produção lhe custam EUR 35,00 e com esse dinheiro você gere um negócio credível e que tem tudo para a cada dia seja melhor, é estar a dizer um enorme mentira.
Uma mera sessão ou cobertura de evento representa inevitavelmente um investimento de 7 a 10 horas de trabalho. Isto sem querer ser minucioso em demasia (se é que isso é possível).
Dez horas de trabalho ao valor cobrado por uma honrosa profissão como a de mulher a dias, em Aveiro, não custa menos de EUR 60,00. Ainda assim, a senhora que passa a roupa ao seu cliente, não precisa de investir e arriscar milhares de euros em equipamento para poder trabalhar. O trabalho desenvolvido, apesar de muitíssimo útil não obedece a uma necessidade de um saber tão específico  e especializado como o de um – bom – fotógrafo. O fotógrafo vende sobretudo o usufruto da sua técnica a terceiros. Um pouco como na grande maioria das profissões que não se incluem no chamado “trabalho indiferenciado”.
Boas fotos!

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